Porto Alegre, 2 de outubro de 2025 – No segundo dia da 10ª edição da Safras Agri Week, o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron, destacou os principais desafios e perspectivas para as exportações brasileiras de café. Segundo ele, 2024 foi um ano atípico, marcado por exportações recordes, com 9 milhões de sacas de conilon e um total de 50,5 milhões de sacas embarcadas pelo Brasil. Contudo, ao comparar 2025 com o desempenho do ano anterior, os números se mostram bem abaixo.
Heron explicou que, ao se considerar a média das exportações entre 2020 e 2023, o desempenho atual poderia ser visto como estável. Porém, em comparação direta com 2024, há uma redução de cerca de 5%. Além disso, o resultado do ano passado poderia ter sido ainda maior, não fossem quase 2 milhões de sacas que permaneceram nos portos devido a gargalos logísticos, entraves que, segundo ele, tendem a continuar nos próximos anos.
Apesar das dificuldades, o diretor técnico do Cecafé avaliou o cenário com otimismo. Ele destacou a demanda consistente pelo café brasileiro, reconhecido por sua qualidade e sustentabilidade, mas lembrou que a oferta global é justa, sem excedentes. De acordo com a OIC, a última safra apresentou disponibilidade de 178 milhões de sacas frente a um consumo de 177 milhões. “Não temos grandes volumes disponíveis. Somando isso às questões logísticas e ao tarifaço, o Brasil tende a enfrentar novos desafios”, afirmou.
A situação com os Estados Unidos foi apontada como um ponto sensível. O país é um dos principais destinos do café brasileiro, mas as tarifas impostas geram dificuldades. “Até agosto, exportamos para os EUA 4 milhões de sacas, metade do volume do ano passado. Se mantivermos a média mensal entre 300 e 350 mil sacas, terminaremos o ano com quase 5 milhões de sacas, cerca de 3 milhões a menos que em 2024. Isso nos preocupa”, destacou Heron.
Na avaliação do Cecafé, os gargalos afetam ambos os lados. Os EUA não conseguiriam substituir rapidamente as 8 milhões de sacas que importam do Brasil, enquanto o Brasil, por sua vez, teria dificuldade em redirecionar esse volume no curto prazo. “O café brasileiro é resiliente. Enfrentamos problemas climáticos, logísticos e conseguimos manter o abastecimento interno e externo, mas ainda temos grandes desafios”, afirmou.
O analista da Safras & Mercado, Gil Barabach, reforçou que a volatilidade está ligada principalmente ao desempenho abaixo do potencial do café arábica no Brasil nos últimos anos. “Tivemos geadas, seca e redução de produção, o que levou à queda dos estoques. Encerramos a temporada 2024/25 praticamente sem estoques, e neste ano a safra de arábica será menor que a anterior. Estoque baixo e pouca oferta resultam em instabilidade no mercado”, concluiu.
Sara Lane – sara.silva@safras.com.br (Safras News)
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