São Paulo -A Bolsa fechou em leve alta de 0,09%, estável, com sinal oposto a Nova York, mas conseguiu se sustentar no patamar dos 145 mil pontos. O pregão foi marcado por lateralização e com baixa liquidez em meio ao índice PCE dentro das estimativas e com queda das commodities, principalmente Vale (VALE3). O cenário político ficou no radar. Na semana, caiu 0,28%.
Mais cedo, foi divulgado o índice PCE americano, que subiu 0,3% em agosto. A renda pessoal teve alta de 0,4%, levemente acima das expectativas de 0,3%. O núcleo do PCE, que exclui do cálculo os preços de alimentos e energia, subiu 0,2% em termos mensais e cresceu 2,9% em termos anuais em agosto, ante 0,2% e 2,9% registrados em julho.
A Petrobras (PETR3 e PETR4) recuou 0,62% e 0,33%. Vale (VALE3) caía 1,92% e bancos subiram em bloco. Destaque negativo ficou para a Braskem (BRKM5) com queda de 14,80%, após a contratação de assessores para reavaliar sua estrutura de capital, diz Ativa Investimentos.
O principal índice da B3 subiu 0,09%, aos 145.446,66 pontos. Às 17h18 (horário de Brasília), o Ibovespa futuro com vencimento em outubro tinha alta de 0,01%, aos 146.410 pontos. O giro financeiro era de R$ 15,8 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em alta.
Felipe SantAnna, especialista em mercado financeiro do grupo Axia Investing, disse que “a bolsa está lateral, sem liquidez e sem fluxo, muito fraca. Ensaiamos uma alta na hora do PCE (no mercado futuro) mas logo devolveu tudo”.
Em relação ao recuo ou não do Tarcísio de Freitas para disputar à presidência no ano que vem, SantAnna disse que “ainda não está totalmente definida, há quem diga que pode ser apenas uma estratégia para tirar o foco sobre ele. É um grande xadrez, Lula é muito forte nas urnas e muitos indicadores econômicos estão esticados no Brasil, e entregar SP para um eventual candidato de esquerda seria muito ruim para o mercado financeiro. Caso ele venha a confirmar a desistência na semana que vem, quando deve encontrar com o Bolsonaro, a bolsa pode reagir negativamente sim”.
Marcelo Boragini, especialista em renda variável na Davos Investimentos, disse que o mercado absorve o índice PCE, após um PIB forte nos EUA, de olho no cenário político e cautela com a proximidade do final de semana.
“Aqui a bolsa opera próximo ao zero. A inflação americana trouxe um certo alívio, mas não [existe] certeza de que o Fed vai continuar com ciclo de corte de juros. O mercado segue acompanhando as expectativas de votações de pautas econômicas no Congresso Nacional e o processo eleitoral para [presidente em] 2026. Vale ressaltar que o Tarcísio de Freitas não está disposto a disputar o pleito no ano que vem [deve concorrer à reeleição ao governo de São Paulo], e isso acaba travando a nossa bolsa. Outro ponto é que normalmente a sexta-feira é um dia de cautela no mercado com o final de semana se aproximando, o investidor prefere não ficar posicionado”.
“Um PCE de 0,3% no mês e 2,7% ao ano, com núcleo em 2,9%, confirma desaceleração lenta e mantém o Fed em modo cauteloso, mesmo após o primeiro corte. Isso tende a sustentar juros longos nos EUA por mais tempo. Para o Brasil, o efeito é um Ibovespa mais seletivo: exportadoras ligadas a commodities podem se beneficiar de dólar mais firme e petróleo resiliente, enquanto setores domésticos sensíveis a juros podem oscilar com a curva. Investidores devem reforçar qualidade de resultados e caixa, focar valuation com margem de segurança e usar proteção cambial tática quando a assimetria do câmbio aumentar, especialmente perto de eventos de Fed e dados de inflação”, Sidney Lima, Analista da Ouro Preto Investimentos.
Para Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, “os dados do PCE de agosto nos Estados Unidos vieram sem grandes surpresas e reforçam a expectativa de que o Federal Reserve (Fed), deve manter a sua trajetória de corte de juros. Apesar de a meta de inflação do Fed ser de 2%, os números de hoje dificilmente devem mudar a rota dos diretores do banco, que já sinalizaram na semana passada a intenção de promover mais dois cortes de 0,25 ponto percentual até o fim do ano. Um ponto interessante do relatório é a indicação de que as tarifas impostas pelo governo do ex-presidente Donald Trump tiveram um repasse limitado para os preços ao consumidor. Autoridades do Fed, incluindo seu presidente, Jerome Powell, avaliam que o impacto das tarifas tende a ser um choque pontual nos preços, e não uma causa de longo prazo para a inflação, mas ainda com cautela”.
Mais cedo, Michelle Bowman, vice-governadora do Fed, disse que “chegou o momento de o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) agir de forma decisiva e proativa para conter a deterioração do dinamismo do mercado de trabalho”, pedindo cortes de juros.
No câmbio, o dólar comercial fechou em queda de 0,51%, cotado a R$ 5,3376sob impacto do índice de preços para os gastos pessoais (PCE), dentro das expectativas, e com a expectativa de mais dois cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ainda esse ano.
Às 17h06 (horário de Brasília), o dólar futuro com vencimento em outubro recuava 0,54%, a R$ 5.341,000. Na semana, a divisa subiu 0,32%.
O Dollar Index, que mede o comportamento da moeda norte-americana frente a uma cesta de divisas desenvolvidas, caiu 0,41%, a 98,15 pontos. .
Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, disse que o dólar acompanhou o movimento global após a divulgação do índice de preços de gastos com consumo (PCE) dos EUA em linha com as expectativas.
“O avanço de 0,3% em agosto e de 2,7% em 12 meses reforçou a percepção de desaceleração gradual da inflação, mantendo a aposta de dois cortes adicionais de 0,25 ponto pelo Federal Reserve até o fim do ano. Com a surpresa limitada dos dados, investidores reduziram posições defensivas, enquanto o fluxo de recursos estrangeiros para o Brasil -mais de US$ 4 bilhões líquidos em setembro -ajudou a sustentar o real, que acompanhou a queda do dólar no exterior, onde o índice DXY também recuou”.
Para a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, o resultado do PCE trouxe alívio ao mercado, corroborando, por enquanto, mais dos cortes dos juros ainda este ano.
“Para o investidor brasileiro, os dados do PCE nos EUA mantêm a trajetória de desinflação, porém sem folga. O câmbio pode continuar volátil diante de juros americanos ainda altos em termos reais; por isso, avaliar ETFs com hedge cambial em partes da carteira de renda fixa global faz sentido, enquanto manter exposição cambial na parcela de ações internacionais ajuda na diversificação de risco Brasil. O mais importante é consistência: aportes regulares e rebalanceamentos periódicos superam o ‘market timing’ do Fed”, Fábio Murad, Economista e CEO da Super-ETF Educação.
Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, o resultado do PCE não altera a perspectiva sobre as duas restantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) em 2025.
Assim como o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em queda puxadas pelo índice PCE, dentro das estimativas do mercado.
Por volta das 16h19 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,900% de 14,895% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 14,045%, de 14,070%, o DI para janeiro de 2028 ia a 13,345%, de 13,365%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 13,235% de 13,250% na mesma comparação.
No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo, mas ainda assim encerraram a semana em queda após a divulgação de dados cruciais de inflação.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,65%, 46.247,29 pontos
Nasdaq 100: +0,44%, 22.484,06 pontos
S&P 500: +0,59%, 6.643,70 pontos
Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Safras News

