O mercado do feijão carioca encerrou a semana sustentado pela escassez de ofertas físicas e pela estratégia de retenção dos produtores. De acordo com o analista de Safras & Mercado, Evandro Oliveira, durante os pregões, as negociações foram restritas, com preços mantidos em patamares firmes e sem variações significativas nos últimos dois dias.
“As referências para grãos extras se consolidaram entre R$ 250 e R$ 270/sc, enquanto os feijões comerciais foram negociados na faixa de R$ 195 a R$ 230/sc”, destacou.
Oliveira observa que a forte valorização desde o início do mês é reflexo direto do baixo volume disponível e das quebras na 3ª safra 24/25. “Foram 124,7 mil toneladas a menos, com perdas de até 40% de produtividade em algumas regiões devido à mosca-branca”, explicou.
A situação se agrava com a estimativa de queda de 34% na área plantada da 1ª safra 25/26 no Paraná, que deve colher apenas 217,5 mil toneladas, contra 339,4 mil toneladas na temporada passada.
No cenário nacional, o 13º levantamento da Conab projeta uma produção total de 3,097 milhões de toneladas para a safra 25/26, avanço de 0,8% frente à temporada passada. Porém, o desempenho é desigual entre os ciclos: queda de 6% na 1ª safra, crescimento de 3,6% na 2ª e alta de 6% na 3ª, reforçando a dependência do inverno.
Segundo o analista, os produtores têm aproveitado o cenário de preços em alta para escalonar a comercialização, com até 80% da produção armazenada em câmaras frias. “Essa estratégia sustenta o mercado e amplia a expectativa de que, diante da limitação da oferta, as cotações possam atingir R$ 300/sc até o início de 2026”, avaliou. O volume total de feijões-cores disponível é o menor desde 2016, o que consolida um ambiente de valorização estrutural.
Feijão Preto
O feijão preto, por outro lado, teve uma semana de recuperação mais gradual, acompanhando a escalada do carioca. Os negócios oscilaram entre R$ 125 e R$ 140/sc para grãos comuns, enquanto os padrões extras alcançaram R$ 165/sc, com vendedores pedindo acima de R$ 170/sc. Ainda assim, a liquidez segue baixa, com pregões esvaziados.
Para Oliveira, o principal desafio do feijão preto segue sendo o excesso de oferta. “A safra 24/25 somou 798,3 mil toneladas, crescimento de 12,7% em relação ao ciclo anterior, enquanto o consumo interno gira em torno de 500 mil toneladas/ano”, explicou. O alívio parcial vem das exportações, que já superaram 78 mil toneladas em 2025, e dos leilões de PEP/PEPRO da Conab, que destinaram R$ 21,7 milhões para facilitar o escoamento.
Mesmo com esses vetores de sustentação, os estoques permanecem elevados, limitando a velocidade de recuperação dos preços. Corretores relatam que, no curto prazo, a firmeza do mercado depende quase exclusivamente do desvio da demanda provocado pelo encarecimento do feijão carioca.
No médio prazo, a expectativa é de que a área plantada do feijão preto seja reduzida na próxima safra, medida vista como fundamental para corrigir o atual desequilíbrio entre oferta e consumo. “Ainda assim, o movimento de valorização deve ser mais lento e frágil do que o observado no feijão carioca”, conclui o analista.
Luciana Abdur – luciana.abdur@safras.com.br (Safras News)
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