Porto Alegre, 5 de setembro de 2025 – O mercado brasileiro de trigo encerrou a semana em ritmo lento, marcado por liquidez restrita e compradores atuando de forma cautelosa. A avaliação é do analista e consultor de Safras & Mercado, Élcio Bento, que destacou que a postura defensiva dos moinhos e tradings tem limitado a realização de negócios, mesmo diante da proximidade da entrada da nova safra.
“No Paraná, a colheita se intensificará em setembro, e é natural que ocorra um realinhamento das cotações da safra velha (entre R$ 1.380 e R$ 1.400 por tonelada no FOB) para os patamares da safra nova (entre R$ 1.300 e R$ 1.350 por tonelada)”, explicou Bento.
O estado deve colher cerca de 2,7 milhões de toneladas, volume insuficiente para atender ao consumo estimado em 4 milhões de toneladas. Ainda assim, segundo o analista, a entrada da safra costuma gerar sobreoferta momentânea, pressionando os preços internos para baixo em relação à paridade de importação.
No Rio Grande do Sul, a colheita deve ganhar ritmo a partir de outubro, mas a semana foi marcada por negócios escassos. As indicações de compra para trigo da safra velha no FOB interior giraram em torno de R$ 1.250 por tonelada.
“Ainda há um saldo remanescente relevante da safra anterior, mas a qualidade desses lotes não tem despertado interesse entre os compradores. Com estoques suficientes para esperar o ingresso da nova safra, os agentes permanecem na defensiva”, afirmou Bento.
O consultor observa que a distância entre pedidas de produtores e ofertas dos moinhos também foi um fator de travamento do mercado ao longo da semana. No Rio Grande do Sul, produtores buscavam valores entre R$ 1.300 e R$ 1.350 por tonelada, enquanto as ofertas se mantiveram na faixa de R$ 1.250, com prazos de pagamento estendidos. “Os poucos negócios efetivados ocorrem apenas quando uma das partes cede”, comentou o analista.
No Paraná, a transição entre safra velha e safra nova foi se consolidando ao longo dos dias, com referências no CIF moinhos variando de R$ 1.350 a R$ 1.400 por tonelada. Já no Rio Grande do Sul, a base de compra permaneceu estabilizada em torno de R$ 1.250 a R$ 1.260 por tonelada.
Apesar da aparente estabilidade momentânea, os preços apresentaram perdas no comparativo histórico. Em relação ao mês anterior, houve retração de 3,6% no Paraná e de 3,1% no Rio Grande do Sul. Na comparação anual, as quedas foram mais expressivas: -8,3% no Paraná e -10,7% no Rio Grande do Sul. Para Élcio Bento, esses números evidenciam “uma perda consistente de sustentação das cotações, em linha com a maior pressão de oferta no mercado internacional e a postura cautelosa dos compradores domésticos”.
Outro ponto de atenção na semana foram os line-ups de importação. Segundo Bento, até o momento, o Brasil registrou 728,5 mil toneladas na temporada 2025/26 (entre agosto e setembro), sendo 419,2 mil toneladas já desembarcadas em agosto e 309,3 mil toneladas programadas para setembro. No mesmo período do ciclo anterior, o volume acumulado havia sido de 958,8 mil toneladas.
Ritiele Rodrigues – ritiele.rodrigues@safras.com.br (Safras News)
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