São Paulo -A Bolsa fechou em queda, conseguiu terminar na marca dos 140 mil pontos, em um dia de aversão ao risco global e com os investidores temendo uma possível sanção de Donald Trump, caso o ex-presidente Jair Bolsonaro seja condenado por tentativa de golpe de Estado. As ações mais penalizadas foram do setor bancário, com destaque para o Banco do Brasil (BBAS3).
Hoje deu início o julgamento de Bolsonaro e de sete réus, pela 1 Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). As sessões seguem amanhã (3) e na próxima semana, nos dias 9, 10 e 12.
As ações do Banco do Brasil (BBAS3) caíram 3,17% com mercado precificando chance de sanções pelos EUA. Bradesco (BBDC3 e BBDC4) recuou 1,74% e 1,13%. Itaú (ITUB4) perdeu 1,70%.
As ações da Vale caíram 0,37% com expectativa de desaceleração chinesa e movimento do minério de ferro. Na ponta positiva, Embraer (EMBR3) subiu 2,16% com boas perspectivas por parte de sell side, diz relatório da Ativa. MRV (MRV3) avançou 2,10%.
O principal índice da B3 caiu 0,67%, aos 140.335,16 pontos. Às 17h13 (horário de Brasília), o Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdia 0,74%, aos 142.560 pontos. O giro financeiro foi de R$ 21,1 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam no negativo.
Ricardo Leite, head de renda variável da Diagrama Investimentos, disse que o mau humor no pregão desta terça-feira se dá “por possíveis sanções americanas a mais ministros [do STF] devido ao julgamento do Bolsonaro, e possibilidades de restrições ao Banco do Brasil. Com isso, o setor financeiro está sofrendo bastante e acelera a queda do Ibovespa. A curva [de juros] está puxando bem em todos os vértices, o que também ajuda a derrubar a nossa bolsa, e o exterior está ruim”.
Leite afirma que essa aversão ao risco global pode ser explicada pela “preocupação do mercado de uma interferência do Trump na direção do Fed, colocando dúvidas sobre a autonomia do banco central americano. Como o mercado americano estava fechado ontem, isso pode ser o motivo do mau humor, e não expectativa com o payroll”.
Para Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos, o cenário global é negativo nesse começo de setembro.
“O mercado acompanha o julgamento do Bolsonaro com expectativa de mais retaliações do Trump. Após a sentença, a dúvida é em que grau se dará a piora do relacionamento entre Brasil e Estados Unidos. Os bancos caem com Banco do Brasil nos holofotes. O PIB veio dentro do esperado, mais fraco do que do primeiro trimestre, o que mostra um certo controle da inflação e já podemos esperar corte da Selic no começo de 2026. O ambiente global é ruim com receio dos próximos passos do Trump em relação a tarifas”.
Patrick Buss, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que o julgamento do ex-presidente, Jair Bolsonaro, traz apreensão ao mercado com chance de retaliação dos EUA.
“A possibilidade de o julgamento não ser favorável ao Bolsonaro, aumentam as chances de novas sanções por parte de Trump, o que leva à queda dos bancos. O mercado ficou assustado na abertura, depois começa a corrigir. O Banco do Brasil chegou a cair 4%. Apesar desse cenário de tensão, é uma oportunidade para investir em algumas ações, como do setor financeiro. Essa situação não vai perdurar durante dois, três anos, e o Trump pode não ser mais presidente, mas os bancos estarão fortes na bolsa”.
Ubirajara Silva gestor de renda variável, explica que “o julgamento do Bolsonaro e o potencial de retaliação dos Estados Unidos, cautela global e uma pouco de realização de lucros devido à alta dos últimos impactam Bolsa”.
Bruno Komura, analista da Potenza Capital, disse que existe cautela global aguardando os dados de trabalho na sexta-feira (5). Por aqui, o mercado espera para ver se teremos mais sanções por conta do julgamento [de Jair Bolsonaro]. Não acho que teremos definição esta semana. Acho que vão esperar passar o 07/09 para condená-lo. O PIB [do 2T25}, apesar de ter vindo acima das expectativas, mostra desaceleração. Está em linha com a ideia de que o PIB no 2S25 deve vir praticamente zerado”.
Mais cedo, o PIB brasileiro avançou 0,40% no segundo trimestre de 2025, levemente acimado do esperado (+0,30%). Na comparação interanual, subiu 2,2%, praticamente em linha com as expectativas (+2,20%), de acordo com as projeções coletadas pelo Termômetro Safras. No 1T25, a economia cresceu 1,4%.
No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em alta de 0,66%, cotado a R$ 5,4753. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o cenário externo. Os indicadores de atividade nos Estados Unidos mais fracos, contudo, contribuíram para a desaceleração da divisa estadunidense ao longo da terça. O mercado segue de olho no julgamento do ex-presidente, Jair Bolsonaro, e possíveis retaliações por parte de Donald Trump.
Bruno Komura, analista da Potenza Capital, disse que o dia começou com cautela global na expectativa para o relatório de emprego nos Estados Unidos, apreensão sobre o julgamento de Bolsonaro e as sanções que podem vir de Donald Trump, mas a moeda americana desacelerou a alta após os dados americanos de atividade.
“O mercado ficou mais animado que os indicadores [PMI industrial e gastos com construção] um pouco mais fracos que o esperado. Isso ajuda no corte de juros pelo Fed”.
Nos Estados Unidos, o índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor industrial subiu para 53,0 pontos em agosto em leitura revisada, ante 49,8 pontos observados em julho. A estimativa do mercado era de 53,3 pontos.
Já os gastos com construção caíram 0,1% em julho na comparação com o mês anterior, totalizando US$ 2,139 trilhões, pela taxa anualizada, de acordo com dados divulgados pelo Departamento do Comércio. A previsão era de estabilidade em base mensal.
“Apesar de ficar acima do consenso, crescendo 0,4% (2,2% a/a) no 2T25, puxado pelo consumo das famílias e pelas exportações líquidas, a abertura do PIB trouxe sinais de atenção. Os investimentos tiveram seu maior recuo desde o 3T23, o PIB cíclico (composto pelos setores mais sensíveis à taxa de juros) expandiu 0,2% (1,1% a/a), também na mínima desde o 3T23, e a expansão mediana do PIB pela ótica da oferta ficou em -0,2% (ante 0,1% no 2T24)”, explicou Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.
Assim como o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em alta. A sessão foi marcada pela expectativa com o início do ex-presidente, Jair Bolsonaro, no Supremo Tribunal Federal (STF) e o temor de sanção dos Estados Unidos. O mercado também digeriu a desaceleração do PIB do 2T25.
Por volta das 16h36 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,895% de 14,890% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 13,985%, de 13,920%, o DI para janeiro de 2028 ia a 13,345%, de 13,235%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 13,335% de 13,200% na mesma comparação.
No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, com os investidores digerindo as últimas novidades sobre tarifas e avaliando o impacto da disparada nos rendimentos dos títulos do Tesouro, no início de um mês historicamente desfavorável para a renda variável.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,55%, 45.295,81 pontos
Nasdaq 100: -0,82%, 21.279,63 pontos
S&P 500: -0,69%, 6.415,54 pontos
Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Safras News

