O mercado do feijão atravessou o mês de julho em ritmo lento, com pouca liquidez e compradores ainda bastante seletivos. A avaliação é do analista Evandro Oliveira, de Safras & Mercado.
“O feijão carioca teve um mês de marasmo comercial. Mesmo para grãos de qualidade superior, como o tipo Dama (9,5), houve dificuldade de saída, com muitas cargas retornando ou paradas na Zona Cerealista, aguardando reposição no varejo”, afirmou.
Segundo o analista, os empacotadores atuavam apenas para cobrir necessidades imediatas, em um cenário de forte apatia no canal de distribuição. “O varejo seguiu operando com estoques enxutos e giro fraco, o que limitou os repasses e impediu o destravamento da cadeia”, disse.
Conforme Oliveira, apesar do feijão extra de melhor qualidade manter valores próximos a R$ 270 por saca (CIF capital paulista), o mercado seguiu lateralizado, sem força compradora ou pressão significativa de baixa. “O que sustenta os preços é a retenção da oferta. Muitos produtores e intermediários optaram por segurar as cargas, apostando em um momento mais propício de venda, que ainda não chegou”, explicou.
A mesma lentidão atingiu os tipos 8,5 e 9, mesmo com boa aparência. A baixa procura tem levado esses grãos ao armazenamento, com a esperança de valorização mais à frente.
O analista destaca que a expectativa gira em torno de um possível incremento da demanda a partir da primeira quinzena de agosto, com retomada gradativa do consumo e eventual reposição dos estoques por parte do varejo. “Ainda assim, não há vetores consistentes que indiquem uma virada de tendência no curtíssimo prazo”, avaliou.
O mercado do feijão preto, por sua vez, teve desempenho ainda mais fraco. O giro nas gôndolas permaneceu abaixo do ideal, e mesmo ações promocionais agressivas – com preços a R$ 4,99/kg em marcas comerciais e até R$ 5,99/kg nas marcas líderes – não foram suficientes para ativar a demanda.
“Empacotadores relataram frustração com a dificuldade de negociação junto ao varejo, que continua resistente a qualquer reajuste de preço e opera com margens muito estreitas”, observou. Essa postura travou o escoamento, limitou o giro da indústria e gerou pressão sobre os estoques em algumas regiões.
As cotações do feijão preto seguiram estáveis, mas sem uma referência clara. A maioria das negociações ocorreu de forma pontual, com valores entre R$ 125 e R$ 127 por saca FOB no Sul do Paraná, e entre R$ 144 e R$ 146 por saca nos Campos de Cima da Serra (RS). A ausência de negócios mais volumosos manteve os preços em patamares nominais, sem pressão compradora efetiva.
De acordo com Oliveira, diante da estagnação no mercado interno, parte dos agentes voltou as atenções para o mercado externo. A valorização do dólar frente ao real – com viés de alta podendo superar R$ 5,60 – trouxe novo alento às expectativas de exportação. “A possibilidade de escoar parte dos estoques via mercado internacional passou a ser vista como importante válvula de escape, especialmente para produtores e tradings com produto disponível”, apontou.
Assim como no feijão carioca, o cenário de curto prazo para o feijão preto também é de cautela. Apesar da expectativa de alguma melhora em agosto, com reposição no varejo e leve aumento do consumo, o mercado ainda carece de gatilhos que provoquem uma mudança significativa na tendência.
“O setor continua dependendo da reação do consumidor final e de variáveis externas, como o câmbio e o apetite do mercado internacional, para que o ritmo das negociações ganhe tração”, completou o analista.
Luciana Abdur – luciana.abdur@safras.com.br (Safras News)
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