São Paulo, 17 de julho de 2025 – O Ibovespa operou com volatilidade nesta quinta-feira, sob impacto da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, de validar boa parte do decreto presidencial do governo federal, elevando o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O único trecho suspenso por Moraes no decreto trata das operações chamadas de risco sacado, modalidade de crédito em que bancos antecipam valores para varejistas que venderam a prazo. A decisão é uma vitória do governo sobre o Congresso, que havia anulado o decreto em junho, após uma longa disputa com o Executivo.
A leitura é que, apesar do impacto positivo do IOF no cenário fiscal com a melhoria na arrecadação, o aumento do peso do estado e da dívida pública, especialmente se o governo conseguir a recondução em 2026, contraria as expectativas do mercado.
Os investidores também reagem ao clima de turbulência em Brasília, com o Executivo e o Congresso seguindo em direções contrárias nas pautas que vêm sendo aprovadas e diante do aumento da popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas. Pesquisa Quaest divulgada nesta quinta-feira (17) mostra que o presidente Lula lidera em todos os eventuais cenários de primeiro turno na disputa para a Presidência da República nas eleições de 2026. O levantamento mostra ainda que Lula descolou de todos os nomes pesquisados em eventual segundo turno, exceto do governador de SP, Tarcísio de Freitas, com quem empataria no limite da margem de erro.
Os investidores também continuaram atentos aos desdobramento da guerra comercial deflagrada pela ameaça de Donald Trump ao comércio com o Brasil, ao impor tarifa de 50% aos produtos locais que sejam comprados pelos Estados Unidos. A expectativa é que em algum momento Brasil e Estados Unidos negociem as tarifas comerciais.
Em meio às tentativas de negociação propostas pelo vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin junto ao setor produtivo, hoje o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional, e disse que o Brasil está disposto a sentar à mesa para negociar com os Estados Unidos, mas que jamais aceitará imposições como as do presidente norte-americano.
O principal índice da B3 subiu apenas 0,03%, aos 135.564,74 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto subiu 0,27%, aos 136.870 pontos. O giro financeiro foi de R$ 13,6 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.
Lucas Almeida, especialista em investimentos e sócio da AVG Capital, avalia que a volatilidade da bolsa hoje “é reflexo direto da deterioração do ambiente institucional e fiscal. A decisão do STF sobre o IOF, com efeito retroativo, pegou mal, e não só pelo impacto arrecadatório, mas pela insegurança jurídica que isso pode gerar. Tudo isso, ainda somado ao risco das tarifas de Trump sobre produtos brasileiros, reacende o temor de guerra comercial. Lá fora, as bolsas oscilam com incerteza sobre juros nos EUA e o impacto inflacionário dessas tarifas. Aqui, a percepção de risco aumentou, e o investidor naturalmente exige mais prêmio pressiona o Ibovespa.”
O analista avalia que a alta da ação do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) hoje “parece estar ligada a rumores de venda de ativos e reestruturação e parece gerar interesse devido ao papel tecnicamente estar descontado”.
Para o analista da Potenza Capital Bruno Komura, existe impulso positivo para a bolsa brasileira com a Selic (taxa básica de juros) em alta, mas que em um primeiro momento deve sofrer com as tarifas impostas por Trump. “Agora à tarde, nós vimos o mercado se recuperar puxado pelo mercado americano. O otimismo nos Estados Unidos se baseia e expectativas nas negociações (tarifas comerciais), e o balanços das empresas que vieram bons, assim como o aumento nas vendas do varejo”, concluiu Komura.
O dólar comercial fechou em queda de 0,25%, cotado a R$ 5,5467. A moeda refletiu, especialmente na parte da tarde, o intenso fluxo estrangeiro. Os ruídos políticos e fiscais, contudo, seguem no radar e preocupam.
O mercado, contudo, ainda digere a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que validou o decreto do presidente Lula, confirmando o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) a 3,5%.
Segundo o analista da Potenza Capital Bruno Komura, “apesar ser um dia cheio de notícias negativas estamos vendo o mercado bem comportado o IOF por decisão de Alexandre de Moraes é negativo não apenas pelo aumento da tributação, mas também por conta das consequências na esfera política – já estamos vendo retaliação do Congresso e veremos mais ao longo do tempo, o que deve piorar significativamente a governabilidade”.
Komura acredita que o movimento desta tarde também reflete o otimismo do mercado estadunidense.
O economista-chefe da Lev Intelligence, Jason Vieira, diz que a decisão de Moraes melhora parcialmente a situação fiscal doméstica, mas pondera: “Porém ainda na via da arrecadação, com o aumento do peso do estado cada vez mais acelerando, assim como a dívida pública, sem nenhuma perspectiva crível de mudança, especialmente se o governo conseguir a recondução em 2026”.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em queda. Apesar dos ruídos políticos e fiscais domésticos, a moeda refletiu o enfraquecimento do dólar e certo otimismo nos Estados Unidos.
Por volta das 16h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,940% de 14,940% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 14,325%, de 14,355%, o DI para janeiro de 2028 ia a 13,675%, de 13,760%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 13,585% de 13,700% na mesma comparação. O dólar caía 0,25%, cotado a R$ 5,5469.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em alta, impulsionadas por novos dados econômicos positivos e uma série de resultados corporativos acima do esperado.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,52%, 44.484,49 pontos
Nasdaq 100: +0,74%, 20.884,27 pontos
S&P 500: +0,54%, 6.297,36 pontos
Cynara Escobar, Paulo Holland e Darlan de Azevedo (Safras News)
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