Geadas devem provocar perdas de 20% em MG e adicionar um nível extra de incerteza no mercado de feijão

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Porto Alegre, 13 de agosto de 2024 – As recentes geadas que atingiram o estado de Minas Gerais preocuparam os produtores de feijão da região. O evento climático ocorreu em cidades como Cristina, Maria da Fé, Passos e no distrito de Monte Verde. A área total prevista para cultivo nessa temporada no estado é de 320 mil hectares, queda de 1% em relação aos 324,1 mil hectares semeados no ano passado, conforme informou o décimo primeiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra brasileira de 2023/24.

Em entrevista exclusiva à Safras News, o gerente de agronegócio da São Pedro Agropecuária, Rodrigo Almeida, disse que o impacto de uma geada nas lavouras em pleno desenvolvimento, florescimento e enchimento de grãos poderia causar danos severos à cultura, com grande perda do potencial produtivo. Embora as intempéries deste ano sejam menos intensas em comparação com as registradas em 2021, as medidas de manejo, como a irrigação, permanecem essenciais para mitigar possíveis impactos. Apesar de não poder afirmar ao certo quantos hectares foram afetados, ele estima pelo menos 20% de perdas nos rendimentos.

Almeida explicou que mesmo em casos em que as lavouras são afetadas, é possível recuperar parte da produtividade com práticas adequadas. “Recupera-se a produção com perdas de produtividade. As medidas a serem tomadas incluem o manejo da cultura com irrigação”, recomendou.

De acordo com o engenheiro agrônomo autônomo e consultor agrícola, Rafael Mendes Mota, as principais áreas afetadas incluem Araguari, Monte Carmelo, Estrela do Sul, Araxá, Coromandel, Uberlândia e Patrocínio. “Muitos feijões mais adiantados já estão enfrentando perdas, e os feijões mais novos estão sofrendo ainda mais devido às diferentes fases de desenvolvimento”, explica. Ele estima que o rendimento deve cair entre 20% e 30% nas áreas do Triângulo Mineiro e nas proximidades de Catalão, Goiás, que visitou.

Panorama de preços

As recentes geadas podem ter um efeito significativo no preço do feijão devido à redução da oferta, conforme o analista e consultor da Safras & Mercado, Evandro Oliveira. O mês de agosto é crítico para o mercado, marcando o pico da terceira safra, irrigada e conhecida pela sua qualidade superior, especialmente para o grão carioca.

Oliveira destaca que, embora as geadas tenham gerado preocupações, até o momento não há relatos de danos substanciais. No entanto, mesmo sem perdas significativas confirmadas, o clima adverso adiciona um nível extra de incerteza ao já complicado cenário.

“Algumas regiões estão enfrentando preços de venda abaixo do custo de produção, com Minas Gerais e Goiás enfrentando valores em torno de R$ 230 e R$ 210, respectivamente. O quadro é agravado pela entrada de uma terceira safra, que, embora de qualidade superior, está pressionando ainda mais as cotações devido ao excesso de oferta”, afirma.

O ano até agora não tem sido favorável para o mercado. Oliveira observa que a primeira safra foi severamente impactada por condições climáticas adversas, incluindo os efeitos do fenômeno El Niño, que causou prejuízos significativos no Rio Grande do Sul e no Paraná. Esses problemas resultaram em um volume elevado de feijão de qualidade inferior, que dificultou ainda mais o escoamento durante a segunda safra.

Agora, com a terceira safra em andamento, os produtores lidam com vendas estagnadas e uma demanda fraca. “Estamos vendo uma falta de reação na demanda e uma comercialização parada, o que só intensifica o problema”, observa o analista. Embora o feijão de escurecimento lento da terceira safra tenha uma capacidade maior de armazenamento, ele ainda é suscetível à perda de qualidade com o tempo. “Não está claro se o feijão extra conseguirá ser armazenado o suficiente para recuperar os preços no futuro”.

Oliveira acrescenta que a esperança dos produtores está voltada para o último quadrimestre do ano, que sazonalmente é um período de vendas mais fortes. “Tivemos relatos de algumas lavouras, mas até o momento ainda não temos uma dimensão do problema.”, conclui.

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Ritiele Rodrigues (ritiele.rodrigues@safras.com.br) / Safras News

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