Porto Alegre, 8 de setembro de 2023 – O excesso de chuva que atingiu as lavouras do Sul brasileiro continua no radar do mercado. Segundo o analista de SAFRAS & Mercado, Elcio Bento, ainda é cedo para se contabilizar perdas.
“A principal preocupação é nas regiões em que as lavouras estavam prontas para serem colhidas. No Paraná era quase a metade da área plantada. No Rio Grande do Sul ainda não existem lavouras nesse estágio. Além do prejuízo à qualidade, o volume das precipitações e os ventos fortes podem gerar acamamento e maior incidência de doenças”, disse.
Se os prejuízos ainda são difíceis de se contabilizar, a resposta do mercado ficou bastante clara. Na última semana, houve reportes expressivos de negócios. No Paraná, lotes da safra velha foram negociados entre R$ 1.150 e R$ 1.180 a tonelada. Safra nova de R$ 1.000 a R$ 1.050 a tonelada. Os volumes de safra nova não chegaram a ser de lotes de grande porte. Porém, muitos agentes estavam no mercado. No Rio Grande do Sul, os reportes eram pontuais. Safra velha por volta de R$ 1.150 a tonelada e nova entre R$ 1.000 e R$ 1.100 a tonelada.
No início desta semana, o mercado esvaziou. Os produtores paranaenses passaram a fixar milho e segurar o trigo. No Rio Grande do Sul, os agentes do lado comprador indicam interesse a R$ 1.050/tonelada para pagamento em 30 dias e a R$ 1.150/tonelada para retirada em outubro e pagamento em novembro. Da mesma forma que no Paraná, os produtores saíram do mercado e abriram o spread de suas pedidas em relação às ofertas.
Conab
A colheita da safra 2022/23 de trigo está em 11,7% da área estimada para a temporada 2022/23 nos sete principais estados produtores do Brasil (Goiás, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul que representam 99,9% do total), conforme levantamento semanal da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com dados recolhidos até 3 de setembro. Na semana anterior, a ceifa estava em 6,9%. Em igual período do ano passado, o número era de 8%.
A produção brasileira de trigo em 2023 deverá ficar em 10,871 milhões de toneladas, segundo o 12o levantamento para a safra brasileira de grãos da Conab. No ano passado, a safra ficou em 10,554 milhões de toneladas. A Conab indica uma área plantada de 3,450 milhões de hectares. Em 2022, a área ocupou 3,086 milhões de hectares. A produtividade está estimada em 3.135 quilos por hectare, contra os 3.420 quilos estimados no ano.
Paraná
O Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, informou, em seu relatório semanal, que a colheita atingiu 26% da área cultivada de 1,409 milhão de hectares. A área deve ser 14% maior do que em 2022, quando cultivou 1,237 milhão de hectares.
Rio Grande do Sul
As lavouras de trigo do Rio Grande do Sul estão, predominantemente em estágios reprodutivos. Segundo boletim semanal da Emater/RS, são 32% em germinação ou desenvolvimento vegetativo, 49% em floração, 18% em enchimento de grãos e 1% em maturação. O crescimento das plantas está adiantado na comparação com a média dos últimos anos. Na última semana, houve grande variação climática, com formação de geadas em partes do estado no amanhecer do dia 28 de agosto. De 1º a 3 de setembro, foram registradas chuvas torrenciais, gerando um ambiente desfavorável ao cultivo.
Argentina
A Bolsa de Cereais de Buenos Aires cortou em 100 mil hectares a área plantada com trigo na Argentina, devido ao clima seco durante a semeadura. Na última semana, a ocorrência de chuvas favoreceu a melhora da condição hídrica do país. As lavouras se dividem entre excelentes/boas (18%), normais (58%) e regulares/ruins (25%). Na semana passada, eram 19% entre excelentes e boas. Um ano atrás, 18%. Atualmente, são 30% em déficit hídrico, contra 35% na semana passada. Um ano atrás, eram 35%.
Gabriel Nascimento (gabriel.antunes@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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