Porto Alegre, 10 de maio de 2023 – A 28ª edição da Agrishow, feira agrícola realizada em Ribeirão Preto (SP), alcançou volume recorde de R$ 13,29 bilhões em negócios gerados e intenções de compra de máquinas agrícolas, de irrigação e de armazenagem. Esse montante representa um crescimento nominal de 18% e um aumento real de 9,5% (descontada a inflação) em relação aos R$ 11,243 bilhões da edição de 2022.
A Agência SAFRAS realizou a cobertura do evento in loco e conversou com produtores, montadoras e entidades do setor. A expectativa, desde o início, era de superação do faturamento da feira, mesmo antes do atrito que resultou no cancelamento da visita do ministro da agricultura, Carlos Fávaro.
O otimismo, no entanto, vinha acompanhado de ressalvas. A principal delas, a falta de crédito oficial. O setor esperava o anúncio de recursos suplementares ao atual plano safra ainda durante a feira.
Nas semanas que antecederam a realização do evento, as montadoras e representantes da indústria se reuniram com o governo federal para cobrar a liberação do que consideravam uma medida necessária para reaquecer o setor: ao menos R$ 1 bilhão. O que se falava era que Fávaro anunciaria, ao menos, R$ 400 milhões durante a cerimônia de abertura, no dia 1º de maio, o que não aconteceu.
A solenidade foi cancelada, o ministro não foi a Ribeirão Preto, e nenhum anúncio oficial foi feito durante os cinco dias de Agrishow. Neste sábado, portanto um dia após o encerramento da feira, o ministério da agricultura anunciou a disponibilização de R$ 200 milhões, o que deve permitir a equalização de cerca de R$ 8,4 bilhões para aplicação imediata nos programas de financiamento do Moderfrota, em irrigação e demais investimentos e em pré-custeio e custeio.
O valor abaixo e depois do esperado sinaliza para um erro estratégico da direção da feira. Ainda que tenha negado o “desconvite” ao ministro da agricultura, a imagem que fica é de que a organização deixou em segundo plano a necessidade do setor de acesso a recursos governamentais, priorizando a participação política de um ex-presidente da República.
O que dizem as montadoras de máquinas
Nos estandes, as falas oficiais sugeriam o otimismo com o faturamento nos cinco dias de Agrishow e com o mercado neste ano, mas não passavam confiança. Melhor seria se algum anúncio tivesse acontecido antes da feira ou, no máximo, logo no início. Enquanto o segmento de alta potência, que atende a produtores com maior capacidade de investimento próprio, ou com recursos privados, parece bem-posicionado, os pequenos e médios sofrem com a alta taxa de juros. O problema é a janela de investimentos que não é boa.
Sem recurso do Moderfrota e do Pronaf, que teriam taxas de juros de 12,5% e de 5,5%, respectivamente, o produtor vai ao mercado e encontra de 16%, 18%. A demora do anúncio, conforme fontes ouvidas pela Agência SAFRAS, freou o que poderia ter sido um resultado ainda melhor da Agrishow.
O sentimento é de que apenas aqueles que têm mais urgência na renovação de seu maquinário é que buscaram negócios na feira. Os demais se mostraram “assustados” com os juros e com o patamar elevado de preços das máquinas. Além de travar o mercado por deixar o produtor à espera do próximo plano safra, a falta de recursos também inibiu o potencial ímpeto comprador de quem foi à feira para conhecer os vários lançamentos promovidos pelas montadoras.
Por outro lado, representantes do setor observam que não existe um “agricultor padrão” sobre o qual se possa projetar um comportamento único. Há quem acredite que a maioria dos frequentadores da feira não tenha se preocupado com a questão política, priorizando um olhar pragmático para o momento de seu negócio.
Expectativa com Plano Safra
Para a próxima safra, a indústria de máquinas espera um Plano Safra robusto, com o volume de recursos adequado para durar o ano inteiro, favorecendo o crescimento do agronegócio brasileiro. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) pediu ao governo R$ 45 bilhões para o setor, sendo R$ 34 bilhões para o Moderfrota e R$ 11 bilhões para o Pronaf. A entidade vê o executivo federal bastante receptivo e acredita que a demanda seja atendida.
Nos bastidores, agentes ligados ao setor apostam num Plano Safra 2023/2024 expressivamente superior aos anteriores. Em 22/23, os recursos para o Moderfrota, liberados em julho, acabaram em outubro, comprometendo os resultados do setor.
Otimismo e investimentos
Para além das ações governamentais, os dirigentes das empresas veem o aumento da rentabilidade por parte dos produtores como mais um ponto positivo para o crescimento do setor nos próximos anos. Mesmo que os preços – da soja, especialmente – estejam em queda, eles seguem em patamares elevados em relação à média histórica. Além disso, os custos de produção já devem ser menores para a próxima safra.
Durante a feira, as principais fabricantes de maquinário agrícola reforçaram o planejamento de robustos investimentos a nível global e regional. O Brasil é visto como tendo muito espaço para crescimento.
Em 2023, no entanto, o mercado de máquinas deve ter algo perto de uma estabilidade. É unanimidade, no entanto, que mesmo uma queda nas vendas já representaria um resultado bastante expressivo, uma vez que a base dos últimos anos vem sendo elevada.
Altos preços das máquinas
Os preços das máquinas, considerados elevados, não devem baixar num futuro visível. De qualquer maneira, os agentes do setor veem o movimento como linear, em oposição a outros setores do agro, nos quais as variações foram mais acentuadas devido à especulação. Os custos de produção para máquinas seguem altos, mas as margens de lucro acompanham essa tendência.
Além disso, as máquinas estão cada vez mais modernas. Os incrementos tecnológicos refletem num aumento do preço. Ainda assim, “os números mostram que os produtores estão buscando essa renovação” de suas máquinas, disse uma fonte do setor. “Os preços estabilizaram em outro patamar, mais elevados”, disse outra, justificando que o produto não é caro quando dá resultado.
Durante a feira, veículos de imprensa divulgaram matérias sobre as máquinas mais caras em exposição, o que causou desconforto entre algumas empresas. Ao que parece, essa é mais uma questão sobre a qual a indústria deve se debruçar nos próximos meses.
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Gabriel Nascimento (gabriel.antunes@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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