O mercado de soja inicia o ano de 2023 com todas as atenções voltadas para a situação das lavouras da nova safra da Argentina e da nova safra dos estados brasileiros do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. O alerta foi feito pelo consultor de SAFRAS & Mercado, Luiz Fernando Roque.
“Pela primeira vez em um bom tempo estamos registrando uma sequência de três anos consecutivos com a incidência do fenômeno La Niña. Tal fato naturalmente ligou o alerta, desde o período de plantio, sobre as novas produções da América do Sul, visto que anos de La Niña costumam ser bastante secos em importantes regiões produtoras do Brasil e da Argentina”, disse, lembrando também que a temporada que se encerra em 2022 (safra 2021/22) foi de grandes perdas produtivas para a Região Sul e para o estado do Mato Grosso do Sul, no Brasil, e para boa parte das províncias da Argentina, o que reduziu bastante a oferta de soja ao longo do ano.
De qualquer forma, a safra 2022/23, que se iniciou ainda em setembro com os trabalhos de plantio, traz um novo potencial produtivo recorde. Novamente os produtores brasileiros semearam uma área recorde, trazendo a possibilidade de uma nova superprodução.
O analista destaca que os trabalhos de plantio iniciaram dentro da janela ideal nos estados do Centro-Oeste, Sudeste e parte do Sul. As máquinas avançaram em ritmo forte por várias semanas, mas alguns estados registraram alguns atrasos devido ao excesso de chuvas, caso do Paraná.
Já nos demais estados do Sul, os trabalhos começaram atrasados e avançaram de forma lenta ao longo de todo o período de plantio devido à falta de umidade, típica do La Niña. “Tal fato chamou a atenção do mercado ao longo de novembro e dezembro. O fato é que essa falta de umidade está colocando em xeque as produções dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. O mês de janeiro será decisivo para a definição das produções destes estados. Se a umidade não retornar de forma regular ao longo do mês, teremos perdas produtivas importantes. Mas, mesmo assim, a safra brasileira deverá ser recorde”, completa Roque.
De uma forma geral, os demais estados brasileiros estão começando 2023 com um grande potencial produtivo em suas lavouras. “Dificilmente veremos perdas produtivas relevantes nas Regiões Centro-Oeste, Sudeste, Norte e Nordeste, o que deve garantir uma nova produção recorde para o Brasil, acima de 150 milhões de toneladas pela primeira vez. Apesar disso, é importante acompanharmos as previsões climáticas para os próximos meses. Alguns estados têm registrado excesso de umidade, o que se continuar pode impedir um bom avanço dos trabalhos de colheita e afetar a qualidade dos grãos”.
Os mapas climáticos apontam para uma primeira quinzena de janeiro com pouca umidade sobre o Rio Grande do Sul, o que mantém o alerta ligado. Já os estados das demais regiões do país deverão receber grandes acumulados de chuvas no período, o que pode ser favorável para a desenvolvimento final das lavouras, se não houver excessos.
Chicago
No primeiro trimestre, Chicago irá responder diretamente à situação das lavouras no Rio Grande do Sul e na Argentina. “Se o clima não melhorar, podemos ver o mercado ganhando fôlego até os US$ 16,00 por bushel. Já se o clima melhorar, O mercado deverá perder um pouco de força, mas sem perder o patamar de US$ 14,00”, projeta.
A partir de abril, as atenções do mercado irão de dividir entre a colheita no RS e na Argentina e a intenção de plantio da nova safra dos EUA. A boa recuperação dos contratos futuros em Chicago nos últimos meses deve levar os produtores norte-americanos a semearem uma área maior nos EUA na nova temporada, possivelmente recorde. “Tal fato naturalmente irá levar a um novo potencial produtivo recorde no segundo maior produtor do mundo, o que pode pesar sobre Chicago. A partir daí, tudo dependerá do clima, e ainda é muito cedo para previsões mais assertivas”.
Preços
Com relação aos preços brasileiros, o consultor recomenda olhar para dois momentos e alguns fatores. O primeiro momento é o primeiro semestre, onde os rumos dos preços dependerão principalmente do tamanho da safra brasileira.” Apesar de possíveis perdas no RS, entendemos que a safra brasileira ainda será grande e recorde, o que deverá pesar sobre os preços no primeiro semestre. Tais possíveis perdas no RS podem apenas impedir maiores quedas nos preços, visto que a pressão sazonal de entrada de safra deve pesar. Chicago pode responder positivamente a problemas no RS e na Argentina, mas os prêmios brasileiros deverão ir na direção contrária”.
Já no segundo semestre, os rumos dos preços dependerão principalmente do tamanho da nova safra norte-americana. Uma safra cheia pesará sobre Chicago, enquanto uma safra com problemas trará fôlego para os contatos futuros. Os prêmios brasileiros tendem a ficar mais firmes no segundo semestre (trazendo suporte para os preços), mas se colhermos uma safra recorde não deveremos ver uma grande valorização nos prêmios, visto a oferta mais folgada para o restante do ano.
“Por último, devemos olhar com cuidado para o dólar. O primeiro ano do novo governo brasileiro tende a trazer muita volatilidade para o câmbio devido às incertezas relacionadas aos rumos da política econômica. Prováveis medidas heterodoxas e desequilíbrio fiscal devem trazer força para a moeda norte-americana. De uma forma geral, esperamos por um dólar firme ao longo do ano, tanto por fatores internos quanto externos. Apesar disso, surpresas não podem ser descartadas. Um improvável direcionamento para uma maior responsabilidade fiscal na economia poderá trazer alívio para a moeda brasileira. De qualquer forma, a tendência de um dólar firme deverá ser um importante fator de suporte para os preços brasileiros ao longo da nova temporada”, conclui Roque.
Dylan Della Pasqua (dylan@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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