Porto Alegre, 02 de setembro de 2022 – A volatilidade seguiu intensa no mercado internacional de café em agosto. A Bolsa de Nova York (ICE Futures US) para o café arábica, que é a referência global da commodity, teve um começo de mês de quedas nas cotações e depois apresentou uma forte recuperação. Os preços foram balançados pelos fundamentos e por fatores financeiros, acompanhando oscilações do dólar ante outras moedas, as variações do petróleo e demais commodities. Houve períodos de maior aversão ao risco e outros de melhor ânimo. O mundo vive ainda a pandemia da covid, inclusive com preocupantes lockdowns na China, e há séria apreensão com recessão global, travando o crescimento econômico, o que afeta a demanda pelas commodities como o café.
Na ICE Futures em NY, a mínima das cotações em agosto foi no dia 02, quando o contrato dezembro caiu no dia a 202,75 centavos de dólar por libra-peso. A posição ameaçou romper para baixo o importantíssimo nível de US$ 2,00 a libra-peso. O café era pressionado seguindo outros mercados no período pelos aspectos financeiros, com o dólar firme contra outras moedas, com a tensão e aversão ao risco com o medo da inflação e recessão.
Entretanto, a partir do pregão do dia 19 em NY o arábica passou a disparar diante de fundamentos, aspectos técnicos e também financeiros. A máxima do mês foi atingida no contrato dezembro em 25 de agosto, quando o preço bateu na máxima em 242,95 centavos de dólar por libra-peso, marcando o maior patamar alcançado em seis meses.
Nos fundamentos, segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, o principal fator de sustentação dos preços é a percepção de que a safra brasileira de arábica é menor que a esperada. “Algumas impressões preliminares sobre o resultado da safra brasileira 2022 indicam uma perda no potencial de produção além do projetado inicialmente”, comenta.
SAFRAS apontava no início da colheita para uma produção de 61,10 milhões de sacas, sendo 38,80 milhões de arábica e 22,30 milhões de sacas de conilon. Mas, o resultado das lavouras aponta para um corte na produção esperada de arábica entre 3,30 a 3,80 milhões de sacas, reduzindo a safra de arábica total para 35,50 a 35,00 milhões de sacas. Com isso, avalia Barabach, a produção total da safra 2022 cairia para 58,50 a 58 a 58,5 milhões de sacas. A surpresa positiva do conilon, que pode chegar a 23 milhões de sacas, explica o ajuste menor na produção brasileira, pondera.
A produção menor, particularmente de arábica, tende a impactar negativamente as exportações e os estoques finais, analisa o consultor. O ajuste de fim de ciclo na Colômbia, América Central e Vietnã representam aspecto altista, assim como as recentes quedas nos estoques certificados da bolsa. A recuperação do índice de commodities CRB também colabora para os ganhos no café, complementa.
Para a safra 2023 também há temores. As regiões principais produtoras (de Minas Gerais e São Paulo) enfrentam no geral falta de umidade há muitos meses. Para piorar, houve indicações de que chuvas em agosto geraram a abertura de floradas precoces. Sem a continuação de um regime regular de chuvas, não há o pegamento dessas floradas e assim já poderia haver prejuízos para a safra futura de 2023. Previsões de umidade neste começo de setembro em áreas cafeeiras atenuaram as preocupações e até levaram a correções para baixo nos preços, que caíram novamente abaixo da linha de US$ 2,40 a libra-peso em NY, mas ainda sustentando bons ganhos no mês.
No balanço de agosto na Bolsa de NY, o arábica para dezembro subiu de 213,80 centavos de dólar por libra-peso (fechamento de 29 de julho) para 235,25 centavos de dólar (fechamento de 31 de agosto), acumulando alta de 10%. Em Londres, o robusta para dezembro acumulou elevação de 10,95%.
No mercado físico brasileiro de café, as cotações do arábica bebida boa no sul de Minas Gerais no balanço mensal subiram de R$ 1.280,00 para R$ 1.320,00 a saca na base de compra, alta de 3,1%. Já o conilon tipo 7 em Vitória, Espírito Santo, avançou de R$ 710,00 para R$ 750,00 a saca, alta de 5,6%.
Com a colheita praticamente encerrada no Brasil, o mercado físico interno acompanhou os ganhos externos em agosto, embora não nas mesmas proporções. ”O produtor continua na defensiva, aguardando preços mais altos e refletindo sobre o tamanho da safra 2022. A alta nos preços ajudou a destravar algumas posições pendentes, mas o fluxo comercial segue concentrado em pequenos lotes isolados, com produtor focado apenas na cobertura de necessidades mais imediatas”, comentou Barabach.
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Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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