Café cai abaixo de US$ 2,20 em NY, mas reage na quinta-feira

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     Porto Alegre, 22 de abril de 2022 – Em mais uma semana de volatilidade no mercado internacional do café, o arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) caiu abaixo da importante linha técnica e gráfica de US$ 2,20 a libra-peso na última quarta-feira (dia 20), mas reagiu bem na sessão desta quinta-feira (21), fechando a 228,15 centavos para julho. As oscilações nos mercados financeiros, com variações do petróleo, de outras commodities e bolsas de valores, e do dólar, seguem mexendo com o café. A quinta-feira foi de recuperação técnica.

     Em linhas gerais, a entrada da safra brasileira, nos fundamentos, é aspecto baixista no momento, com a colheita iniciando em abril para o conilon e em maio para o arábica. Em que pese não ser uma safra de potencial produtivo alcançado, é o momento de colheita do maior produtor global e exportador, o que traz pressão sobre as cotações nas bolsas de futuros.

     Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, o mercado se ajusta às projeções climáticas positivas, nesse início de trabalhos no Brasil, e a uma demanda mais curta. “A incerteza financeira, motivada pela guerra na Ucrânia e a expectativa de uma atuação mais agressiva do Fed para conter a inflação, acaba pesando negativamente sobre os preços do café em bolsa”, comenta. Observa que, já o dólar, que poderia servir como contraponto, também testa fundo, a despeito da maior “aversão ao risco” externa. “O fluxo de entrada de recursos segue elevado, com investidores atraídos pelos juros altos, o que acaba favorecendo a firmeza da moeda local em relação à divisa norte-americana”, avalia.

     Ele comenta que os diferenciais reagem no curto prazo, mas seguem sem força nas posições com safra nova do Brasil. “O efeito, além de paliativo, é de fôlego muito curto, o que não traz alento às cotações no físico do país. E diante dessa composição, os preços voltaram a recuar aqui dentro”, afirma. A bebida boa do Sul de Minas caiu abaixo da referência de R$ 1.200 a saca, ao ser indicada na compra a R$ 1.195 a saca de 60 kg. “O vendedor assustado se retrai e abre ideia a R$ 1.240 saca, elevando a distância entre as pontas. Porém, para fechar alguma coisa tem que buscar aproximação com a ideia de compra”, coloca o consultor.

     Barabach diz que houve uma inversão do mercado, que agora está mais na mão do comprador, apesar da pouca disponibilidade. “A safra chegando e a demanda externa mais curta explicam essa mudança de comportamento”, diz.

     Os cafés mais finos giram entre R$ 1.230 a R$ 1.270 no Cerrado e na Mogiana, também acusando a queda na ICE e a falta de força do dólar. As indicações de fixação antecipada com safras futuras seguem bem próximo das bases praticadas no disponível. A ideia de preço é entre R$ 1.200 a R$ 1.240 para bebida boa para Setembro/2022 e entre R$ 1.210 a R$ 1.250 a saca para entrega e pagamento em Setembro/2023.

     A bebida rio com 20% de catação das Matas de Minas caiu a R$ 1.080 saca, seguindo os sinais externos mais fracos, aponta Barabach. Já o conilon 7/8 na região de Colatina no Espírito Santo manteve a ideia de R$ 820 saca no disponível. “Oferta muito curta, valorização na ICE Europa e produtor capitalizado e retraído garantem a sustentação. Indústria monitora a chegada da safra nova, atenta a oportunidades, embora, ciente que será outro ano de preços valorizados, apesar da safra maior. O interesse da indústria de torrado e moído local deve dar o tom do mercado”, analisa Barabach.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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