Rally segue e café flerta com linha de US$ 2,50 em NY

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     Porto Alegre, 26 de novembro de 2021 – O mercado internacional de café teve mais uma semana de preços firmes, com a Bolsa de Nova York (ICE Futures US) testando patamares ainda mais elevados e flertando com a linha de US$ 2,50 a libra-peso no contrato março do arábica. E isso que a semana foi mais curta na Bolsa diante do feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos, com a ICE não operando na quinta-feira, 25 de novembro.

     O consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, destaca que a posição Março/22 fixou nova máxima para o contrato ao trocar de mãos a 248,20 cents, já enxergando bem de perto a referência de 250 cents na ICE US. No rally, Barabach salienta que o café subiu 21% ou 4.325 pontos entre a mínima do pregão do dia 08 de novembro (202,15 cents) e essa quarta-feira (24).

     “Alguns fatores ajudam a explicar esse movimento. O primeiro é o aperto na oferta física, com quebra da safra brasileira 2021, e ampliado pela perda de potencial da safra 2022. As dificuldades logísticas, diante da falta de contêineres e de espaço nos navios, bem como a disparada do frete internacional também favorecem a alta do café”, comenta o consultor.

     Barabach indica que o receio com abastecimento fica ainda mais perigoso nesse período de pico de consumo de café, com o início da temporada fria no hemisfério Norte. “Há por fim o fator liquidez  e o aumento dos custos, que ajudam a encarecer ainda mais o café”, pondera.

     Um sintoma do aperto na oferta física disponível, lembra Barabach, é a queda nos estoques certificados de café na ICE US. Muitas indústrias norte-americanas têm recorrido ao produto depositado em armazém credenciados na bolsa de NY para suprir suas necessidades imediatas, devido à dificuldade em receber café ou mesmo pelo custo mais baixo. “É bom lembrar que não é só o preço do café que está subindo, o frete e os demais custos de transporte marítimo também. A situação é tão preocupante que já se cogita a viabilidade de transportar café fora de contêineres”, diz.

     Os estoques certificados na ICE US caíram a 1,68 milhão de sacas em 24 de novembro. Se comparado ao último pico em junho de 2021, queda de 23% ou 508 mil sacas. Ainda bem acima do fundo de 1,1 milhão de setembro de 2020. “Porém, a constante alta no preço e o pico de consumo abrem espaço para aceleração desse movimento de queda dos estoques. E isso gera preocupação, que se reflete positivamente sobre os preços. Do total de café armazenado na bolsa de NY cerca de 846 mil sacas (50%) são de origem do Brasil e 731 mil sacas (44%) de Honduras”, aponta o consultor de SAFRAS.

     O receio com o abastecimento é um importante fator de sustentação dos preços no curto prazo, que tem até distorcido o comportamento do mercado, pontua Barabach. Tanto que o spread entre os vencimentos dos contratos de café na ICE US é negativo, ou seja, os contratos mais longos estão mais baratos que os mais curtos. “Isso indica grande dificuldade imediata com a oferta e uma leitura de melhora futura no suprimento de café”, avalia. 

     No balanço da semana, entre as quintas-feiras 18 e 25 (lembrando que NY não operou no dia 25), o contrato março subiu mais 7,1% para o arábica na Bolsa de NY, passando de 229,15 para 245,40 centavos de dólar por libra-peso. Na Bolsa de Londres, no mesmo intervalo, o contrato janeiro do robusta subiu 3,6%, passando de US$ 2.212 a tonelada para US$ 2.292 a tonelada.

     No mercado físico brasileiro de café, as cotações subiram acompanhando a valorização de NY. Mas, mesmo com o mercado significativamente valorizado, não se percebe um grande interesse do lado do vendedor. “O produtor continua na defensiva, alongando posições e apostando na sequência de alta. Na verdade, o físico interno tem se caracterizado por negócios de necessidade, com pontas distantes e spread entre compra e venda bastante largos. Nesse sentido, o comprador mais necessitado de volume ou querendo uma descrição específica tem que buscar aproximação com a ideia de venda”, aponta.

     No balanço da semana, entre as quintas-feiras 18 e 25 de novembro, o arábica bebida boa no sul de Minas Gerais subiu de R$ 1.330,00 a saca para R$ 1.430,00, alta de 7,5%. Já o conilon tipo 7 em Vitória, Espírito Santo, avançou de R$ 805,00 para R$ 815,00 a saca, valorização de 1,2%.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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