Porto Alegre, 19 de novembro de 2021 – A semana voltou a ser de disparada nas cotações internacionais do café, balizadas pela Bolsa de Nova York (ICE Futures US). NY atingiu os preços mais elevados desde 2012, quase uma década. Fortes movimentos de compradas de fundos e especuladores, diante de apreensões com a oferta global, fizeram as cotações superarem resistências e se aproximarem de US$ 2,40 a libra-peso para a posição março, referência em NY diante do vencimento próximo do contrato dezembro.
O consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, destaca que o mercado foi inflado por um forte fluxo financeiro e apoiado em temores fundamentais. Do lado financeiro, o vencimento das opções e a atuação de fundos deram o tom do mercado, ajudando o café a romper resistências e fixar novas máximas para os contratos. “Já no fundamental, o aperto da oferta disponível e as expectativas conflitantes em relação ao desenvolvimento da próxima safra brasileira trazem sustentação ao mercado”, comenta.
Na contramão da ideia de uma melhora nas perspectivas produtivas para a safra brasileira 2022, diante do retorno das chuvas às áreas de café do Brasil e das floradas mais vistosas, os produtores seguem céticos, como observa Barabach. “Reportam abortamento, sinalizando que as floradas não devem vingar em sua plenitude. E isso pode elevar as perdas potenciais da próxima safra brasileira, reduzindo ainda mais a oferta de arábica do Brasil em 2022”, indica o consultor.
Também crescem os temores climáticos com o “La Nina”, por conta do excesso de chuva na Colômbia e Vietnã, lembra. “A umidade, além de atrasar fluxo, também pode afetar o resultado produtivo dessas importantes origens. Esse problema ganha uma dimensão ainda maior em um momento de aperto na oferta e dificuldades com o fluxo de embarques”, adverte, lembrando os empecilhos com falta de contêineres e outros entraves logísticos.
O vencimento das opções de Dezembro/21 na semana passada e do 1º dia de notificação de entrega física neste 19 de novembro acabou agitando o mercado e contribuindo de forma significativa para a alta nos preços. “É que essas datas trouxeram uma dinâmica financeira mais intensa de cobertura de posições compradas, o que reforçou a ideia de carência e ajudou a puxar as cotações para cima em NY”, afirma.
Na quarta-feira, 17, o contrato março na Bolsa de NY atingiu máxima acima de US$ 2,38 a libra-peso. Já nesta quinta-feira, 18, houve realização de lucros e NY fechou a 229,15 centavos de dólar por libra-peso para o contrato março/2022. Isso representa uma valorização de 7,4% no comparativo com a quinta-feira anterior (11), quando a bolsa fechou nesta posição a 213,30 centavos. Porém, nesta sexta-feira, 19, por volta das 11h30min (horário do fechamento desta coluna), o contrato março tem fortes ganhos novamente e trabalha em torno de US$ 2,38 a libra-peso, com alta de quase 4% no dia.
Na Bolsa de Londres, o robusta não teve uma semana positiva, com movimentos técnicos de realização de lucros. Entre as quintas-feiras 11 e 18, o contrato janeiro acumulou baixa de 3,5%.
No mercado físico brasileiro de café, as negociações seguem arrastadas diante de toda volatilidade da bolsa. O dólar firme, com o comercial acumulando valorização de 3,05% entre os dias 11 e 18, contribui para a sustentação dos preços. Mas, são as fortes altas na Bolsa de NY que levaram ao avanço nas cotações internas. Os vendedores seguem vendendo somente o que precisam no curto prazo, dosando a oferta, enquanto o comprador está cauteloso diante de toda a valorização do café e adquirindo volumes menores a cada entrada no mercado, somente para o necessário.
“Apesar do preço alto, o vendedor continua na retranca, preocupado com safra BR-22 e apostando na sequência de alta nos preços. Assim, os negócios seguem restritos a lotes isolados, com produtor dando preferência a venda de descrições mais fracas”, diz Gil Barabach.
No balanço da semana, entre as quintas-feiras 11 e 18 de novembro, o arábica bebida boa no sul de Minas Gerais subiu de R$ 1.265,00 a saca para R$ 1.330,00, alta de 5,1%. Já o conilon tipo 7 em Vitória, Espírito Santo, se manteve estabilizado em R$ 805,00 a saca.
COMERCIALIZAÇÃO
As vendas de safras futuras de café no Brasil andaram muito pouco ao longo do último mês. Levantamento de SAFRAS & Mercado indica que até o último dia 12 de outubro as vendas da safra 2022/23 alcançavam 26% do potencial produtivo, avançando apenas 1 ponto percentual em relação ao mês anterior. A indicação está sujeita a ajuste, uma vez que é baseada em potencial produtivo.
A comercialização das safras futuras está lenta não por causa do preço, que ficou ainda mais atrativo por conta da puxada na ICE (Bolsa de Nova York) e do dólar firme, como indica o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach. “Dúvidas produtivas, ruídos de falta de entrega de café e aposta na sequência de alta nos preços justificam esse comportamento do vendedor. Além disso o spread curto para as posições mais longas na ICE US também acabaram tirando um pouco do interesse de venda”, comenta.
No caso do arábica, o comprometimento do produtor brasileiro alcança 29%, enquanto no conilon chega a 18% do potencial da safra. “No caso do conilon, a indústria doméstica, antes muito agressiva por posições antecipada, tirou um pouco o pé. O elevado comprometimento e realinhamento negativo na curva de preço de conilon interno justificam essa postura”, diz Barabach.
Segundo o consultor, nem mesmo as posições para a safra brasileira 2023, que foge um pouco do risco produtivo com seca e geada, avançaram. “A curva ascendente de preços tem feito o vendedor segurar as fixações. E até as operações de troca (barter) estão paradas, com produtor apostando na alta do café e até em uma eventual queda no preço dos insumos”, avalia. Assim, o potencial comprometimento da safra brasileira 2023 segue em torno de 9% e concentrado no arábica (12%).
Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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