Preços do café despencam com chuvas no Brasil e mercado financeiro

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     Porto Alegre, 18 de junho de 2021 – A semana foi de fortes quedas nas cotações do café na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) e também no mercado físico brasileiro. As indicações de chuvas benéficas às lavouras de café do Brasil, atenuando a preocupação com a falta de umidade, pesaram sobre os preços internacionais. Além disso, outras commodities também caíram e o café acompanhou o movimento.

     Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, as chuvas irregulares e com baixo volume acumulado não resolvem o problema de déficit hídrico, mas ajudam a reduzir um pouco o estresse climático. “Associado a isso, a safra 2021 começa a ganhar corpo, com colheita avançando e os lotes começando a aparecer nas praças de negociação. E como o mercado estava esticado demais, com arábica em NY trabalhando acima de 160 cents, os operadores acabaram encontrando no andamento da colheita e nas chuvas no Brasil o motivo esperado para corrigir exageros e atenuar a trajetória de alta”, avalia.

     Porém, fundamentamente, o mercado segue encontrando suporte na quebra de safra 2021 do Brasil e no déficit na oferta global. A proteção contra o clima no Brasil, onde falta chuva e risco com entrada de massas polares, servem como contraponto às investidas de baixa, comenta o consultor.

     Nos mercados, o petróleo e o índice de commodities CRB caíram, com o café seguindo, com as notícias da política monetária americana após a decisão do Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) de manter a taxa básica de juros entre zero e 0,25% ao ano. O problema é que o FED surpreendeu os investidores ao dizer que poderia aumentar as taxas de juros em um ritmo muito mais rápido do que o esperado. Isso pode pressionar para cima do dólar, o que pressiona para baixo as commodities. Foi motivo para baixas do café nesta quinta-feira, sobretudo, quando NY caiu 2,5%.

     No balanço dos últimos sete dias, entre a quinta-feira da semana passada (10 de junho) e esta quinta-feira (17 de junho), o café arábica em NY para setembro caiu de 160,80 para 151,60 centavos, acumulando uma desvalorização de 5,7%. Em Londres, o café robusta caiu no mesmo comparativo na Bolsa para setembro 0,8%.

     No Brasil, além das perdas na bolsa de NY, o dólar mais fraco pesou sobre as cotações. A moeda americana caiu 0,8% entre os dias 10 e 17, ameaçando romper para baixo os R$ 5,00. No mesmo balanço dos últimos sete dias, o arábica bebida boa no sul de Minas Gerais recuou de R$ 840,00 para R$ 800,00 a saca na base de compra, baixa de 4,8%. O conilon tipo 7 em Vitória, Espírito Santo, caiu de R$ 480,00 para R$ 475,00 a saca, perda de 1%.

     Barabach diz que a acomodação em NY e o dólar mais fraco acabam pensando negativamente contra o preço interno de café. “E o bom andamento da safra 2021 favorece esse realinhamento. Assim, as cotações no físico interno se afastam das máximas recentes, intensificando o movimento corretivo”, comenta.

     A queda nos preços não foi suficiente para mexer com o comportamento do vendedor, porém. Mesmo mais baixo, o mercado segue em região bastante favorável ao vendedor, o que garante ainda uma excelente rentabilidade. “O risco climático e as dúvidas produtivas alimentam apostas de alta e favorecem a estratégia de alongar vendas, particularmente nesse momento de transição entre as safras. Nesse caso, sem um tombo mais expressivo das cotações, o produtor deve seguir administrando venda e escalonando posições”, observa.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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