Mercado de soja entra em 2021 com muitas dúvidas e expectativas

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Porto Alegre, 30 de dezembro de 2020 – No lado da oferta, mercado brasileiro de soja começa com os players atentos ao desenvolvimento da nova safra sul-americana. Em uma temporada de La Niña, as atenções sobre as condições climáticas permanecerão redobradas até a colheita das safras de Brasil e Argentina, principalmente.

No Brasil, apesar de existirem problemas regionalizados em alguns estados, ainda é cedo para falar em perdas expressivas. Apesar disso, segundo o analista de SAFRAS & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez Roque, “provavelmente não atingiremos todo o potencial produtivo das lavouras em alguns estados devido a irregularidades climáticas registradas desde o plantio”.

De qualquer forma, a expectativa ainda é de uma nova safra recorde, que deve superar a marca de 130 milhões de toneladas. Já na Argentina, conforme Gutierrez, os problemas parecem ser mais amplos, atingindo a maior parte da chamada “Zona Núcleo” de produção, onde as principais províncias produtoras se encontram. “Os meses de janeiro e fevereiro serão decisivos para o país vizinho, assim como para o estado do Rio Grande do Sul. Se as perdas no Brasil e na Argentina avançarem nas primeiras semanas de 2021, Chicago continuará ganhando força”, explicou.

O analista observa que após a entrada da safra sul-americana, os olhos do mercado irão se voltar para a nova safra norte-americana, que começa a ser semeada a partir de maio. A grande recuperação das cotações dos contratos futuros em Chicago no segundo semestre de 2020 leva a um novo ambiente para o produtor norte-americano nesta nova temporada. Após mais de 2 anos de uma guerra comercial que pressionou os preços, 2021 começa com um novo governo nos EUA, e com a expectativa quanto à nova relação comercial entre os dois países.

“Ainda assim, os preços mais elevados em Chicago trazem mais tranquilidade para o produtor norte-americanos tomar a decisão de plantio. A tendência é de que a área norte-americana de soja volte a crescer de forma consistente em 2021. Tal fato, se confirmado, pode impedir que os contratos futuros em Chicago continuem ganhando força no primeiro semestre. A partir do plantio, as atenções se voltam para o clima sobre o cinturão produtor dos EUA, com todas as possibilidades em aberto. Clima ruim, Chicago pra cima. Clima bom, Chicago pra baixo. O famoso mercado climático norte-americano será protagonista de maio a setembro”, projetou.

Demanda

No lado da demanda, a nova relação comercial entre EUA e China será decisiva para a divisão das compras chinesas na nova temporada. “No contexto atual, não esperamos grandes mudanças frente ao que vimos em 2020. Apesar disso, é possível que o Brasil perca mais alguns volumes de compras chinesas para os EUA. Mesmo assim, o Brasil continuará como o maior fornecedor de soja para a China e como o maior exportador mundial da oleaginosa. As exportações brasileiras continuarão fortes em 2021, podendo atingir um novo recorde”, disse.

Preços

O ano começa com cotações ainda em patamares elevados no Brasil. O grande fator de dúvida para os players na nova temporada continuará sendo o câmbio. A moeda norte-americana começou a perder força diante de outras moedas a partir do aparente controle da pandemia ao redor do mundo e iminente chegada das vacinas.

Após quase atingir a marca de R$ 6,00 em 2020, o dólar começa 2021 trabalhando mais próximo de R$ 5,00. Fatores internos e externos serão decisivos para entender os cenários do câmbio. Internamente, as questões envolvendo o quadro fiscal e as reformas serão centrais. “Havendo um avanço positivo nestes fatores, o câmbio poderá trabalhar abaixo de R$ 5,00. Caso contrário, poderá voltar a ganhar força. Já externamente, as atenções se voltarão para como o novo governo norte-americano irá agir economicamente. Além disso, a recuperação econômica mundial após a pandemia também chamará atenção”, analisou Gutierrez.

Os preços brasileiros também dependem da situação dos estoques internos. “Após um ano de estoques praticamente zerados, a tendência é que haja uma certa recuperação em 2021 se a safra não sofrer grandes perdas. Caso contrário, a escassez de oferta diante de uma forte demanda por exportação e forte demanda por esmagamento poderá levar a uma nova distorção nos preços internos frente à paridade de exportação. Não podemos descartar este quadro. De qualquer maneira, não vemos espaço para grandes correções negativas nas cotações frente às que iniciam o ano. A tendência é novamente de preços bastante remuneradores em 2021”, finalizou.

Gabriel Nascimento (gabriel.antunes@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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