Porto Alegre, 27 de dezembro de 2024 – O ano de 2024 foi de preços históricos no mercado internacional do café. Nas bolsas de Nova York para o café arábica, em Londres para o robusta e no mercado brasileiro, as cotações atingiram recordes de alta. Houve muitos fatores para esse cenário, mas o principal é a grande preocupação com a safra brasileira de 2025, após uma produção que também decepcionou em 2024.
Como destaca o consultor de Safras & Mercado, Gil Barabach, na bolsa de Nova York, o café arábica subiu quase 80%, encontrando suporte em quebras de safra no Vietnã e no Brasil, devido à seca. O robusta em Londres também teve uma forte valorização, com um aumento superior a 100% desde o início do ano. “O crescente pessimismo em relação ao tamanho da safra de arábica do Brasil de 2025 segue dando fôlego ao movimento de alta, mesmo após essa valorização acentuada”, salienta Barabach.
“Se não bastasse a alta nos preços do café, o dólar contra a moeda local (real) também registrou uma valorização de 27% no ano (até o dia 26) e segue testando máximas, refletindo o temor fiscal no Brasil e a aversão ao risco no cenário internacional”, comenta o consultor. Lá fora, o índice DXY acumula alta no ano de 7%.
Com isso, o café arábica de boa bebida, avalia Barabach, que chegou a ser negociado próximo de R$ 900 a saca de 60 kg no início do ano, disparou e, na reta final de 2024, chegou a gira em torno de R$ 2.300 a saca — uma valorização de 129%. No caso do conilon capixaba, a alta foi de 141%, com a saca sendo negociada ligeiramente acima de R$ 1.800.
O consultor indica que, de forma geral, 2024 foi um ano de preços muito elevados, margens mais amplas para os vendedores e um fluxo de negócios cadenciado por parte dos produtores, que aproveitaram gradualmente a curva de alta nos preços.
A safra 2024 do Brasil de arábica acabou trazendo grãos mais miúdos e ficou aquém das expectativas. E a produção de conilon também decepcionou com rendimento abaixo do esperado. Safras & Mercado trabalha com uma safra brasileira 2024/25 de 66 milhões de sacas, praticamente o mesmo colhido em 2023/24 (65,6 milhões de sacas). Vale lembrar que a produção brasileira 2024/25 chegou a ser indicada acima de 70 milhões de sacas, e esse número foi caindo conforme se avaliou a produtividade abaixo das expectativas.
Para 2025/26, Safras estima preliminarmente uma produção em 62,45 milhões de sacas, cerca de 5% menos que em 2024/25. A safra do próximo ano está comprometida pelos longos períodos sem chuvas até outubro ao longo de 2024, e por altas temperaturas.
Barabach coloca que essa seca histórica que atingiu o Sudeste do país, afetando especialmente os estados de São Paulo e Minas Gerais, retirou energia das plantas, o que impossibilitou a sustentação da florada exuberante de outubro. “Além disso, muitos produtores, já percebendo que a lavoura não entregaria o esperado, elevaram o percentual de ‘esqueletamento’ (uma espécie de poda), o que também ajudou a reduzir o potencial da produção de 2025”, afirma.
Todo esse cenário, conforme destaca o consultor, impacta negativamente o tamanho da próxima safra de arábica do Brasil. “O fato é que essa percepção tem se deteriorado ainda mais nas últimas semanas. É verdade que o quadro continua em aberto e uma visão mais clara só será possível no final de janeiro e ao longo de fevereiro do próximo ano, com o fruto no pé em período de granação”, conclui.
O robusta na Bolsa de Londres em grande parte do ano puxou junto para cima o arábica em NY, invertendo a lógica de que o robusta acompanha o arábica. No Brasil, observou-se, o que é raríssimo, o conilon/robusta superar valores do arábica. E isso ocorreu sobretudo por uma oferta menor do robusta no Vietnã. O Brasil ocupou esse espaço com amplos volumes exportados de conilon.
Falando em exportações, o Brasil vai fechar o ano com um volume recorde embarcado. Ainda faltando contabilizar dezembro para o fechamento de 2024, as exportações brasileiras de café já alcançaram o recorde anual de 46,399 milhões de sacas, superando em 3,78% o maior volume registrado até então, nos 12 meses de 2020 (44,707 mi de sacas). Ante a performance de janeiro a novembro de 2023 (35,102 mi de sacas), a evolução é de 32,2%, como destacam números do Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé).
Em receita cambial, o desempenho é ainda mais significativo e também recorde anual, mesmo faltando um mês para o fechamento de 2024. Nos primeiros 11 meses deste ano, o Brasil recebeu US$ 11,302 bilhões com as remessas de café ao exterior, apresentando crescimento de 22,3% sobre o maior registro antecedente, de US$ 9,244 bilhões entre janeiro e dezembro de 2022, e de substanciais 56% em relação ao obtido no primeiro andecamestre do ano passado, salientou o Cecafé.
Em linhas gerais, o ano de 2024 foi de preocupações e dificuldades produtivas no Brasil, tanto com a safra colhida como com a safra futura. Mas é inegável que o mercado na comercialização foi extremamente favorável e o produtor aproveitou os momentos para a venda a preços crescentes e históricos. Na próxima semana, na sexta-feira 03 de janeiro, Safras divulga a coluna Perspectiva, trazendo as tendências do mercado de café para 2025.
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Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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