2022 de duras quedas nos preços internacionais do café

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 Porto Alegre, 23 de dezembro de 2022 – O ano de 2022 vai se encerrando sem deixar muitas saudades para os produtores de café. O cafeicultor brasileiro que sonhou com o grão a R$ 2.000,00 a saca (arábicas de melhor qualidade) termina vendo o café mal e mal se sustentando na faixa de R$ 1.000,00. 

 Na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), que baliza a comercialização internacional, a primeira posição do arábica terminou o ano de 2021 a 226,10 centavos de dólar por libra-peso, e fechou este dia 22 de dezembro a 168,90 centavos, acumulando assim uma baixa de 25,3%.

 No começo de 2022, NY chegou a trabalhar perto de 240 centavos, picos de alta até 250 centavos. Mas como destaca o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, foi gradativamente reduzindo o intervalo de atuação, assimilando a chegada da safra brasileira 2022 e os sinais de demanda mais curta. Os sinais globais de inflação e recessão, a guerra na Ucrânia e um cenário ainda de pandemia da covid pressionaram o café junto com outras commodities também.

 Porém, “o principal ponto de mudança, que efetivamente caracterizou a inflexão negativa na curva de preço do arábica, aconteceu mais recentemente, no último mês de outubro. As intensas floradas da safra brasileira 2023 e o retorno das chuvas às áreas de café do Brasil serviram de gatilho para queda nas cotações”, comenta Barabach. Com essa perspectiva de uma oferta futura melhor, as cotações desabaram. O arábica não só perdeu a linha de 200 cents como se insinuou em direção à linha de 150 cents. “Muita coisa, para quem no começo do ano chegou a imaginar café a 300 cents”, aborda Barabach.

Neste final de ano, o café tenta recuperar a linha de 170 cents na ICE US, ainda buscando consolidar um novo patamar de atuação depois das recentes perdas. “O mercado continua refém da volatilidade financeira, atento às notícias sobre a flexibilização das restrições na China com a covid e o vai e vem no preço do petróleo. Encontra na flutuação do dólar, particularmente contra o real, estímulos de curto prazo”, diz o consultor. O café segue amarrado fundamentalmente à promessa de folga futura na oferta, diante da expectativa de safra cheia no Brasil no próximo ano.

“Enquanto a safra não chega, (o mercado) tenta equacionar as indicações de menor disponibilidade de arábica com o consumo arrastado”, comenta.

Na Bolsa de Londres, o robusta no balanço do ano até este dia 22 caiu no período 21,3%, tomando por base a primeira posição (mercado contínuo).

No Brasil, o preço do café também oscilou bastante em 2022. Barabach considera que o saldo, no geral, foi positivo, apesar do final não tão bom para o produtor. O ano iniciou com as bebidas melhores (arábicas) entre R$ 1.500 a R$ 1.600 a saca e produtores acreditando em R$ 2.000 a saca. Ele ressalta que a bebida boa não alcançou os R$ 2.000 como, na verdade, acabou caiu para R$ 1.200 a R$ 1.400 a saca, ficando por um bom tempo dentro deste intervalo “ainda bastante interessante para o vendedor”.

Mas, vieram as floradas de outubro e os primeiros sinais da safra 2023 e o preço desabou girando nesse fim de ano em torno de R$ 1.000 a saca, “o que assusta o produtor”. Entre as descrições, o café conilon é o que mostra mais mostra força, nesse momento, para se descolar em relação À cena externa e buscar valorização no mercado disponível com o andamento da entressafra, avalia Barabach. “A agressividade da indústria de torrado e moído garante essa performance. Mas é bom lembrar que a safra de conilon chega mais cedo que o arábica no Brasil”, adverte.

No balanço do ano no mercado físico brasileiro de café, o arábica bebida boa no sul de Minas Gerais, que fechou 2021 cotado a R$ 1.410,00 a saca na base de compra, chegou a este dia 22 de dezembro a R$ 1.000,00 a saca, acumulando no período uma desvalorização de 29,1%. Além de NY, o dólar no balanço anual também acumula uma baixa no comercial de cerca de 7%, tendo fechado 2021 na faixa de R$ 5,58 e este dia 22 de dezembro em torno de R$ 5,18. Isso também pressiona as cotações em reais do café no país.

Já o conilon caiu menos, mais demandado pela indústria, que aumentou o percentual desse tipo de café em seus blends para lidar com condições de mercado mais ajustadas (preços mais altos do arábica e oferta limitada). O conilon tipo em Vitória, Espírito Santo, caiu no balanço anual de R$ 825,00 para R$ 700,00 a saca, queda de 15,1%.

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 Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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